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quarta-feira, 8 de setembro de 2010

CRESCER

De modo geral, parece que o ser humano tem horror a crescer. Amadurecer emocional e psicologicamente, buscar por si mesmo o sentido da própria vida, sem ter de esperar que um outro ser humano, de maior autoridade, lhe diga e mostre... Assim é que procura mães e pais idealizados em toda parte – governantes, líderes religiosos, gurus, avatares, mestres descobridores da senha esperta para o mundo mágico, típico do universo imaginário das crianças, onde, enfim, se poderá viver sem custo..., em inerte e paralisante contemplação...: não importa a mão que balance o berço, desde que o balance... Qualquer um que lhe prometa um farto estoque de fraldas e mamadeiras eternas recebe seu voto e reverência, sem nenhuma hesitação.

A promessa de Dilma Rousseff, de, se eleita, cuidar do Brasil como uma mãe o faria, é mercadologicamente correta. Com uma clientela emocionalmente infantil, nada mais acertado que ensaiar uma adoção generalizada da prole brasileira...


Na vida adulta, temos duas opções básicas de abordarmos a questão da autoridade – uma imatura, outra madura. A opção imatura habilita as ditaduras, o autoritarismo renitente: onde há o anseio por uma infância eterna, só pode haver a contrapartida óbvia da parentalidade eterna... – ‘pais’ e ‘mães’ provedores, fonte ideal de todas as mamadeiras e papinhas que nenhum outro animal do mundo ousaria desejar por tanto tempo, e com tanto afinco.

A opção madura não se furta da democracia, em que os indivíduos não são vistos como iguais, mas como equivalentes, em termos de possibilidade de exercer o poder cidadão.

De fato, a democracia não se traduz por igualdade, mas por equivalência, já que a diversidade é requisito fundamental da criatividade e capacidade evolutiva do que quer que seja – do nível atômico e sub-atômico da matéria às mais complexas criaturas do Universo. Sem diversidade, a própria vida não existiria – sem diversidade, H2O (=a água) seria só hidrogênio (H), ou só oxigênio (O)... Combinar e criar exige diferença. O homogêneo total é entropia e morte.

Precisamos parar de procurar salvadores em cada esquina. Não crescer é mais perigoso que crescer – o paraíso não pode ser um lugar onde não tenhamos que fazer nada, porque “algo maior” sempre estará fazendo por nós... Isto não é paraíso, é reabsorção a uma infância eterna, e, portanto, inerte, de onde é impossível evoluir, conquistar o futuro pelas próprias mãos, de modo a perceber que o caminho de cada um de nós só pode ser trilhado pelos nossos próprios pés. Ser conduzido é render-se ao pavor do desconhecido e viver como se se tivesse as pernas amputadas... Nunca vi leões ou leopardos esperando que suas caças despencassem dos céus para eles; nem árvores e flores que exigissem chuva na hora certa da sua sede.

Estar vivo é uma aventura de sobrevivência, um descobrir e forjar recursos a partir do próprio esforço. E isto não é nenhum castigo ou desamparo da Natureza em relação a nós, é o real sentido do poder – arcar com a responbsabilidade de estar vivo por inteiro, tomando as rédeas do amadurecimento às próprias mãos; entendendo que o medo não é um vilão, no mundo adulto, mas, essencialmente, indício daquilo que ainda precisamos aprender a ser e fazer.

Não se pode viver na infância emocional para sempre, sob pena de tomarmos o avesso do caminho por caminho; se assim fizermos, não seremos coisas vivas, mas, fundamentalmente, natimortas.

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